O sujeito e suas diversas relações (3)

Depois de uma pausa com os textos de faculdade, estou retornando com a terceira parte da reflexão sobre o sujeito, retomando com Sartre.

O EXISTENCIALISMO DINAMIZANDO HISTORICAMENTE O SUJEITO 

A relação estabelecida entre a idéia cartesiana de sujeito e a idéia de Nietzsche, fornece a possibilidade de estabelecermos outras relações a partir de diferentes matizes filosóficas que tentam avançar a reflexão acerca do sujeito. Uma delas diz respeito à reflexão da existência. A máxima sartriana: “a existência precede a essência” (SARTRE, 1973, p. 11), introduz a idéia básica existencialista do filósofo de que há um ser que primeiro existe e depois se define. Tal afirmação pretende por em xeque uma possível idéia de universalidade humana, de uma natureza humana comum a todos os homens, onde seria possível abstrair de um individuo particular o conceito de homem. Desse pressuposto, podemos tornar evidente o caráter histórico que o sujeito carrega. É a partir da sua existência no mundo que o homem passa a ser homem. O subjetivismo sartriano propõe que o próprio sujeito configura sua existência a partir das escolhas que faz, “o homem não é mais que o que ele faz” (Idem, p. 12) ou ainda “o homem é responsável por aquilo que é” (Idem, ibidem.). O perigo recorrente a essa doutrina repousa na idéia de que a existência é desempenhada individualmente pelos homens. Sartre combate tal idéia ao afirmar que os homens se tornam responsáveis por todos os homens porque eles próprios forjam a imagem de tal existência para os outros homens. Para a constituição do sujeito é indispensável a existência do outro. A existência só o é a partir do momento que ela é relacional.
O ateísmo de Sartre é ponto crucial para sua filosofia. Quando se percebem “aventureiros” no mundo, sem valores estabelecidos a priori por uma essência divina e anterior, os homens se encontram submersos numa angústia constante. Essa angústia pode parecer o sintoma de um pessimismo agudo, mas na verdade nada mais é do que a liberdade de escolher. Os homens, sozinhos no mundo, têm agora a possibilidade de criarem eles próprios o futuro e, portanto, existir é lançar-se para um futuro, existir é ter a liberdade de escolher e é por esse aspecto que o pessimismo e a angústia transformam-se num otimismo de que todo homem, abandonado a sua existência, “está condenado a ser livre” (Idem, p. 15).
Para Sartre, a liberdade dos homens não sofre nenhuma influência das paixões. Não há uma força devastadora que insinue e determine suas ações. As paixões, nesse caso, são uma desculpa para as suas escolhas. Todo homem escolhe e escolhendo, opta por si só, fazendo exercício de sua liberdade. É notável, que nada oferece ao homem um descontrole de sua liberdade para a tomada de suas decisões. Sua escolhas são plenas e são feitas em plena consciência. Mais uma vez, o otimismo do subjetivismo sartriano manifesta-se afirmando que, pelo simples fato do individuo estar disposto livremente no mundo, sua liberdade é plenamente exercida e suas escolhas se fazem sem quaisquer interferências. A única possibilidade que pode interferir em suas escolhas diz respeito a sua própria existência enquanto relação ao compromisso assumido. Suas escolhas então, caminhariam através deste terreno.
Em suma, o existencialismo nos diz que a realidade e o subjetivismo, engendrado por tal realidade, localizam-se na ação cotidiana e existencial dos homens. Quando se afirma que “só há realidade na ação” (Idem, p. 19), voltamos ao início da exposição da doutrina de Sartre e verificamos com mais entusiasmo que o homem só se caracteriza e compreende a realidade em seu entorno quando experimenta a existência concreta e real pondo-se no mundo como ser engajado e com berço em sua liberdade.

2 comentários:

  1. Muito BOM mano! Não tenho textos tão lúcidos e bem escritos assim na faculdade. Guardo uma admiração pela sua escrita, você a realiza de uma forma bem clara e sem enrolação, direto ao ponto. Legal mesmo!

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    1. É sempre bom receber as críticas de quem lida com a filosofia todo dia, principalmente porque o texto se refere a elementos filosóficos. Obrigado pelo elogio

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